
O que é aluguel de ações
O termo técnico é “empréstimo de ativos”, mas no dia a dia do mercado os investidores se referem a ele como “aluguel de ações”. Nesse tipo de operação, investidores que possuem papéis na sua carteira emprestam eles a outros investidores, mediante a cobrança de uma taxa de “aluguel”.
Os “doadores” das ações costumam ser investidores com foco no longo prazo, que compram ações sem ter o interesse de se desfazer delas de imediato. Já os “tomadores” – quem pega as ações emprestado – precisam delas temporariamente, normalmente para realizar alguma estratégia específica no mercado.
A analogia com o aluguel de um imóvel funciona bem para entender o aluguel de ações. Quem tem um imóvel e o disponibiliza para aluguel tem um ativo que, “parado”, teria uma rentabilidade limitada (a possível valorização dele no futuro). Opta pelo aluguel quem não tem a intenção de vender o imóvel no curto prazo e quer ampliar as suas possibilidades de rendimento.
Com as ações, funciona do mesmo jeito: ao colocar seus papéis para alugar, o investidor abre uma possibilidade adicional de ganho, por meio da taxa de aluguel cobrada do tomador. Com isso, consegue rentabilizar ainda mais seus ativos.
Já quem toma as ações emprestadas tem sempre um objetivo específico com isso. Elas servem para fazer as chamadas “vendas a descoberto”, o que na prática nada mais é do que vender uma ação no mercado sem tê-la na carteira. Para poder entregar os papéis que vendeu, o tomador os aluga de outro investidor.
Normalmente, o vendedor a descoberto faz isso quando a perspectiva é de queda do mercado: ele vende as ações antes de caírem, por um determinado preço, e recompra mais tarde, depois de já terem recuado, a um preço mais baixo. Com isso, recupera os papéis para entregá-los novamente ao doador e embolsa a diferença como seu lucro na operação.
Como funciona
Quem tem interesse em colocar suas ações para alugar deve contratar o serviço na sua instituição financeira – corretora ou distribuidora – informando os ativos que deseja emprestar. A instituição atua como intermediária entre o doador e os potenciais tomadores do empréstimo de ações. É ela que envia as ofertas à bolsa e que concretiza os negócios quando um interessado aparece.
Existem muitos detalhes envolvidos em uma operação de aluguel de ações, que você vai conhecer a seguir
Tipos de ativos que podem ser alugados
Quem define os ativos que podem ser alugados é a própria B3, a seu critério. O fundamental é que eles estejam depositados na Central Depositária de Ativos da bolsa e também que estejam livres e desembaraçados de ônus, o que eventualmente poderia impedir a sua circulação. Em 2020, os ativos liberados para operações de empréstimo eram:
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Ações de companhias abertas e listadas na B3
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Units (ativos compostos por mais de um tipo ou classe de valores mobiliários)
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Cotas de Fundos de Índices (ETFs)
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BDRs Patrocinados
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BDRs Não Patrocinados Nível I
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Cotas de Fundos de Investimentos Imobiliários
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Cotas de Fundos de Investimentos em Participações
Garantia
Os principais riscos de uma operação de aluguel, segundo o guia “Por Dentro da B3”, se concentram no investidor que toma as ações emprestadas. Ele pode, por alguma razão, não pagar a taxa de aluguel ao doador ou ainda a taxa de registro da operação. No pior cenário, pode também acabar não devolvendo os papéis na data acertada. Por isso, a bolsa de valores estabeleceu um sistema de garantias, para assegurar que todos os compromissos sejam honrados e eliminar a inadimplência.
É assim porque a B3 atua como contraparte central nas operações de aluguel. Isso significa, na prática, que cabe a ela garantir a liquidação desses negócios mesmo se algum dos envolvidos – tomador ou doador – não cumpra com suas obrigações de entrega ou pagamento. Para que isso seja possível, a B3 exige o depósito de garantias. Assim, se alguém falhar no meio do processo, a bolsa toma as garantias e realiza os pagamentos. Simples assim.
São vários os ativos que os tomadores podem deixar em garantia para operações de aluguel – não é preciso, necessariamente, que seja dinheiro vivo. Valem também títulos públicos, títulos privados, ações incluídas na carteira do Ibovespa, entre outros. O total exigido é de 100% do valor dos ativos da operação de empréstimo, além de um intervalo de margem específico para cada papel. O intervalo de margem representa a oscilação possível desse ativo em dois dias úteis consecutivos.
Transferência
Durante uma operação de aluguel, a propriedade das ações é transferida temporariamente para o tomador – que fica liberado para fazer o que quiser com elas (vendê-las, por exemplo), desde que as devolva ao doador na data e nas condições acertadas anteriormente.
Feita a transferência, a empresa deixa de ter o doador como acionista. Por isso, durante a vigência do contrato, ele não faz jus a certos direitos concedidos a quem tem a posse das ações. Por exemplo, o doador não pode participar das assembleias da companhia, nem tem direito a voto. É fácil entender a razão: se mantivesse, uma só ação poderia acabar proporcionando mais de um voto (ao doador e ao tomador).
Dividendos
Embora os doadores percam alguns direitos ao emprestarem suas ações, outros são mantidos. É o caso da distribuição de dividendos e de juros sobre capital próprio. Quando uma empresa paga esses proventos, o próprio serviço de empréstimo encaminha os recursos diretamente ao doador, na mesma data e no mesmo montante, debitando os valores do tomador.
Coisa parecida acontece no caso de outros eventos corporativos, segundo o livro “Top: Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro”. Nas situações em que ocorrem bonificações, grupamentos ou desdobramentos, por exemplo, o doador recebe as ações alugadas com as quantidades já ajustadas.
No caso de uma subscrição, o sistema garante a possibilidade de o doador participar com as ações a que tinha direito. No entanto, os direitos de subscrição não são gerados na conta de custódia dele, e sim do tomador – que precisa optar em devolver os direitos ou recibos de subscrição ou ações correspondentes à subscrição. Se ele não fizer isso, é garantida ao doador a chance de subscrever as ações a que tem direito via BTC, seguindo um procedimento específico.
Custos
Para alugar ações, o tomador precisa arcar com alguns custos – o doador, por sua vez, não tem custo nenhuma para deixar seus papéis disponíveis para empréstimo. Os custos do tomador envolvem:
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Taxa de registro cobrada pela B3, de 0,25% ao ano sobre o valor do empréstimo, com um mínimo de R$ 10 por contrato;
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Emolumentos e Imposto de Renda sobre os rendimentos;
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Taxa de corretagem cobrada pela instituição financeira que intermediar a operação;
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Taxa do aluguel, um percentual sobre a operação que remunera o doador por ceder a posse temporária dos ativos ao tomador.
Tipos de contratos
Algumas características específicas podem ser incluídas nos contratos de aluguel de ações, modificando as condições pactuadas entre os doadores e os tomadores. Assim, os contratos podem ser classificados
da seguinte maneira:
• Contrato reversível ao doador: O doador pode encerrar o contrato a qualquer momento, independentemente do período acordado. O tomador, por sua vez, paga a taxa de aluguel proporcional ao período em que permaneceu com as ações.
• Contrato reversível ao tomador: O tomador pode finalizar o contrato independentemente da data de vencimento, devolvendo as ações em até quatro dias.
• Contrato reversível ao tomador e doador: Nesse caso, tanto o tomador quanto o doador podem encerrar o contrato antes do vencimento.
• Vencimento Fixo: O doador e o tomador devem cumprir integralmente o período de vigência.
Vantagens, desvantagens e riscos
Ok, você já entendeu os principais conceitos relacionados ao aluguel de ações. Mas na prática, quais são as vantagens e desvantagens desse tipo de operação? E mais, onde residem os riscos?
Para os doadores de ações a grande vantagem está em rentabilizar a carteira de ações com uma forma adicional de ganho – que, muitas vezes, nem é considerada. Por outro lado, enquanto o contrato estiver vigente os papéis não podem ser acessados. Então, se alguma oportunidade – de venda das ações, por exemplo – aparecer no meio do caminho, poderá ser perdida. A carteira fica “travada” pelo período do contrato, a menos que ele preveja a reversibilidade da operação.
Já para os tomadores o aluguel de ações permite realizar estratégias que possivelmente não seriam possíveis de outra forma. O ponto de atenção está nos custos, que devem ser considerados nos detalhes para que o investidor tenha segurança de que os lucros em potencial sejam compensadores.
Quanto aos riscos, para os doadores eles são limitados. Isso porque mesmo que o tomador não devolva as ações na data acertada, a B3 atua como contraparte e poderá executar as garantias para que a operação seja liquidada. Para os tomadores, o principal risco é de mercado. Se as ações não se comportarem do modo como o investidor havia previsto ao fechar a negociação com o doador, a chance de prejuízo existe – e pode não ser pequena.
Short Squeeze
Uma dessas mudanças de comportamento que podem ocorrer é chamado de short Squeeze. Trata-se de um movimento brusco do mercado financeiro que provoca a valorização de algum ativo de forma muito significativa.
Digamos que um investidor queira montar uma operação apostando na queda do preço de determinada ação. Para isso, ele pode: i) alugar esta ação e vendê-la no mercado, para quando os papéis caírem ele compre-os de volta e os devolva para o locatário (o que seria a venda a descoberto); ou ii) vender um papel que ele ainda não possui e zerar a operação antes que ele fique “inadimplente” na Bovespa (que seria a venda a seco). Acontece que quando esse investidor monta uma posição “short” (vendida), ele depende da oferta destas ações no banco de aluguel – o BTC: caso não tenha disponibilidade de muitos ativos para cobrirem as posições vendidas, os “shorters” acabam correndo para zerarem suas operações – que no caso seria comprar estes papéis -, provocando uma forte pressão compradora. Para este fenômeno dá-se o nome de “short squeeze”, que na tradução livre seria um “sufocamento dos vendidos”.
Geralmente um “short squeeze” ocorre quando a quantidade de ações alugadas de uma empresa está próxima do limite estipulado pela B3, que mantém como regra inicial um total de 20% do “free float” (ações em circulação no mercado) como teto inicial para o máximo de ações “shorteadas”.
Tributação do Aluguel de Ações
Quando o aluguel da ação é estruturado, o doador já conhece os prazos e taxas que receberá. Por isso, essa operação é tributada como Renda Fixa e segue a tabela regressiva do Imposto de Renda.
No Aluguel de Ações, o doador, quem deseja alugar suas ações, não possui nenhum custo ao fazer a operação. Já para o tomador, os custos são 0,25% ao ano da taxa de registo da B3, com mínimo de R$ 10,00 por contrato.
